"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Alunos ingressantes no ensino superior

Oscar Hipólito
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Os alunos ingressantes no ensino superior, em sua grande maioria, são oriundos de cursos médios cuja estrutura de ensino diverge, em vários aspectos, do ambiente universitário. São em geral inseguros em relação ao curso escolhido, ansiosos com o que vão encontrar na instituição, mas plenos de expectativas e com muita motivação. Ingressando em condições diversificadas, formam um conjunto heterogêneo tanto em relação ao grau de escolaridade como em valores sociais, culturais e econômicos.
Essa heterogeneidade muitas vezes se constitui em um obstáculo para o desenvolvimento do curso, pois o professor, se não conhecer a realidade de seus alunos, acaba encontrando problemas para a condução de suas aulas. Não conhecendo o "aluno real", corre-se então o risco de ministrar um curso que mais o desestimula do que o motiva, levando-o à evasão precoce, à frustração e consequentemente a um insucesso institucional.
Com o objetivo de minimizar esse problema e melhorar a relação ensino/aprendizagem, a adoção de algumas medidas relativamente simples pelos professores dos primeiros anos pode contribuir para a satisfação do aluno, o sucesso do curso e da instituição.
Trabalhar com a diversidade
A percepção das diferenças indivi­duais é fator condicionante para a melhoria da relação professor/aluno. Nesse sentido, é importante que o professor saiba quem são seus alunos, não apenas do ponto de vista da escolaridade, mas também do socioeconômico. Assim, poderá criar condições para o desenvolvimento de suas potencialidades e sua inserção no mundo acadêmico.
O resultado do processo seletivo acompanhado do levantamento socioe­-conômico do aluno que ingressa é um excelente instrumento para o professor.Além do mais, é fundamental o estabelecimento de um relacionamento cordial e amigável e, acima de tudo, respeito à individualidade do aluno.
Motivar para o curso
O estudante que acaba de ingressar na universidade está extremamente motivado pelo novo desafio e tem muitas expectativas em relação ao curso e ao ambiente universitário.  Portanto, é preciso não frustrá-lo, mantendo seu entusiasmo, interesse e envolvimento em todas as atividades acadêmicas do curso e da instituição.

Para ter um ambiente de aprendizagem estimulante, é importante que o professor explique sempre o porquê e o para quê do tema que está sendo desenvolvido, sua conexão com a vida real e em especial com a profissão escolhida, procurando dar ao aluno uma visão geral de sua área de formação.
É natural nos sentirmos motivados a aprender alguma coisa quando temos consciência de sua utilidade. Nada é mais frustrante do que termos de aprender apenas por aprender.
Avaliar para melhorar
O aluno inicia seu curso, e sua carreira universitária, com um alto grau de expectativa. Não sabe exatamente o que esperar, não tem condições de avaliar sua própria capacidade de sucesso, mas tem receio de fracassar. A primeira avaliação do ensino/aprendizagem não deve, portanto, demorar a acontecer, porque o aluno irá criando uma ansiedade que acabará sendo prejudicial ao seu desempenho escolar.  
Para melhorar a relação ensino/aprendizagem e aumentar a eficiência desse processo, o professor deve utilizar, além de diferentes mecanismos de avaliação, avaliações processos continuadas que permitam um real acompanhamento do aprendizado do estudante, dando-lhe confiança para avançar nos novos temas.
Enfrentar as dificuldades
O conteúdo do programa deve ser ministrado gradativamente. Essa é uma condição essencial para a superação das dificuldades do aluno. Por isso, cada dificuldade deve ser enfrentada a seu tempo e a sua vez. Inicialmente, o professor deve se valer dos resultados obtidos no processo seletivo para se certificar do nível de entendimento dos alunos. Caso esses dados não sejam suficientes, deve-se realizar uma pequena avaliação específica dos pré-requisitos necessários para a disciplina.
É importante fazer sempre uma revisão dos conceitos necessários e indispensáveis (ainda que se suponha que os alunos já deveriam sabê-los) antes de introduzir um assunto novo. Admitir, a priori, que o aluno tenha conhecimento prévio das bases necessárias é um equívoco que pode redundar em um desestímulo e consequente fracasso.
Ensinar a pensar
Cada área do conhecimento tem certos mecanismos de elaboração do raciocínio. Os alunos, na sua grande maioria, não têm essa formação, não sabem como começar a pensar, como desenvolver afirmações, como justificar procedimentos.
O professor precisa, então, criar mecanismos e condições para que o aluno possa desenvolver habilidades de raciocínio, aprender a aprender, aprender a pensar e aprender a elaborar questões.
Há necessidade de introduzir em sala de aula a metodologia da pesquisa científica. Propor questões desafiadoras para que o pensamento possa se desenvolver na elaboração de soluções reais.
Deixar o aluno fazer
Cabe ao aluno buscar a solução dos problemas e, ao professor, orientar e ajudá-lo a superar as suas dificuldades e limitações. O aluno não é, e nem pode ser, mero espectador de sua própria aprendizagem. É necessário que seja um partícipe nesse processo. Portanto, seu envolvimento é essencial para a construção do conhecimento. O professor deve, sempre que possível, exercitar a prática profissional por meio de problemas reais.
Informar
O aluno precisa ser informado sobre o programa, bibliografia, critérios utilizados pelo professor, metodologia de condução das aulas e do curso; conteúdo a ser exigido nas avaliações; duração de cada avaliação,  os critérios de correção, o gabarito das questões. Estas informações são fundamentais para o desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem e para a adequada relação professor/aluno.
Orientar sempre
O professor deve orientar academicamente o aluno a estudar, a elaborar um relatório, a redigir corretamente um texto, a realizar pesquisa bibliográfica etc. Deve também contribuir com a orientação profissional, dando conhecimento das atividades de sua (professor) área de trabalho e das perspectivas da profissão escolhida.
Se esse conjunto de medidas básicas forem adotadas e implementadas, certamente haverá maior envolvimento e interesse dos alunos e consequentemente bons resultados na aprendizagem. Certamente selecionar os melhores professores para o primeiro ano facilitará em muito a execução dessa tarefa e contribuirá para a satisfação e permanência do aluno na instituição. Ainda que essas recomendações estejam dirigidas principalmente para o aluno ingressante, elas se aplicam, em sua maior parte, a todas as séries.
Oscar Hipólito é professor titular da Universidade de São Paulo, foi diretor do Instituto de Física de São Carlos, USP, é pesquisador do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia

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