"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Alunos [tutores] receberão R$ 115,00/mês para ensinar matemática aos colegas na rede pública de ensino de São Paulo

Multiplicando Saber é um projeto-piloto da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), professores da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Trata-se de um projeto integrado de sessões de estudo de matemática em formato de tutorias para alunos do ensino fundamental e de valorização de estudantes do ensino médio da rede estadual paulista.

Neste ano o projeto será implementado em formato piloto, e deve atender alunos de um número limitado de escolas de ensino fundamental em todo o estado, a serem selecionadas a partir de seu desempenho no IDESP/SARESP. A depender do sucesso desta etapa, o projeto poderá ser implantado no próximo ano em outras escolas, séries, e/ou disciplinas, utilizando a experiência adquirida nesta fase para ser aperfeiçoado.

As tutorias são formadas por grupos de até quatro alunos do 6º e 7º anos do ensino fundamental que estejam apresentando dificuldade em matemática. Estes grupos serão liderados por um aluno do 2º ou 3º ano do ensino médio com bom desempenho nesta disciplina. A idéia fundamental é utilizar de forma inovadora e criativa recursos já existentes dentro do próprio sistema (como o espaço ocioso durante o contra-turno das escolas) para enfrentar as deficiências no aprendizado de matemática que têm sido demonstradas pelos alunos em testes de proficiência nacionais e internacionais. Ao mesmo tempo, o Programa é uma forma de valorizar os bons alunos do ensino médio ao reconhecê-los e premia-los,1 já que seu talento normalmente passa despercebido em discussões que se focam no desempenho médio do sistema.

Em dois dias da semana, durante 12 semanas, o tutor se reunirá com o grupo de pupilos para auxiliá-los na compreensão do material ensinado pelo professor de matemática em sala de aula. A tutoria deve se desenvolver em um ambiente informal e flexível, mas focalizado no aprendizado do conteúdo de matemática, conforme ensinado pelo professor. Em tal atmosfera, semelhante a uma aula particular, não só o aprendizado do conteúdo deve ser facilitado, como também a transferência dos tutores para os pupilos de outros valores positivos – como a importância da educação, sociabilidade, estratégias efetivas de estudo, e interesse pela matemática. Nesta atmosfera informal e menos estruturada que a sala de aula, os alunos sentem-se mais confortáveis para colocar suas dúvidas e interagir de forma proveitosa com seus pares.

Deve-se frisar que o tutor não substitui o professor regular, mas complementa seu trabalho ao dar um tratamento especial para os alunos com maior dificuldade. Ao focalizar este grupo, as tutorias facilitam a prática didática do professor em sala de aula, e podem até afetar de forma positiva o desempenho do restante dos alunos.

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Antecedentes

Tornou-se consenso na sociedade brasileira a necessidade de adotar estratégias efetivas para melhorar aprendizado entre os alunos do ensino básico. O desafio colocado diante dos formuladores de políticas é colossal, e não se deve esperar que uma única modalidade de ações seja capaz de dar conta de todas as deficiências atuais.

A manutenção da trajetória de crescimento sustentável do país reforça a necessidade de qualificar melhor os cidadãos, tanto nas capacidades cognitivas quanto naquelas ligadas à formação de valores e de personalidade.

A escola tem papel decisivo no acúmulo de ambas as capacidades, tanto na entrega direta do currículo escolar, quanto na organização do contexto de socialização de seus alunos.

A questão torna-se mais crítica quando observamos a necessidade de promover o aprendizado dos alunos que foram incluídos no ambiente escolar nos últimos quinze anos, resultado do processo de universalização do acesso ao ensino fundamental no Brasil. Este movimento modificou substancialmente o perfil do alunado, e trouxe desafios ainda maiores para o Estado. Tornou-se necessário promover o aprendizado de alunos com características sócio-econômicas

adversas, que em geral almejam um grau de escolaridade maior que o alcançado por seus pais. Tal fato é crítico se considerarmos que as interações no âmbito da família são fundamentais para o aprendizado do jovem, e um substancial contingente de estudantes dos sistemas públicos no Brasil não pode contar com este suporte proveniente dos pais ou outros familiares mais velhos.

Além disso, a universalização do acesso acirrou o problema da diversidade do alunado dentro do sistema, que dificulta ainda mais a tarefa de desenhar um pequeno leque de políticas para um público agora mais diferenciado.

Como resultado, há uma grande diversidade em termos de proficiência no corpo de alunos que compõem a rede pública de ensino no Brasil. Neste conjunto encontramos desde medalhistas em competições de matemática até alunos com proficiência insuficiente que concluem o ensino médio. Portanto, é improvável que uma só política seja capaz de dar conta de todas as carências hoje existentes. O objetivo do Programa Multiplicando Saber é exatamente dar um passo para encontrar políticas educacionais que tragam resultados satisfatórios e sejam custo-efetivas, como também identificar os grupos de alunos para os quais os aspectos cobertos são mais apropriados. A caminhada é longa, mas este é um passo importante.

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1. Os tutores são contratados como estagiários e recebem uma bolsa-auxílio mensal de R$ 115,00 durante os três meses do projeto.

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Fonte:

Coordenação Multiplicando Saber e Pesquisadores Responsáveis – FIPE/USP

contato@multiplicandosaber.org.br

www.mu l t i p l i c a n d o s a b e r . o r g . b r

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