"Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham, nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles".

sábado, 31 de janeiro de 2009

QUEM SÃO OS DALITS?

Poucas pessoas no mundo têm experimentado um nível de abuso e pobreza como os 300 milhões de Dalits ou "intocáveis" da Índia.

Por 3.000 anos eles têm vivido num ciclo de discriminação e desespero sem esperança de escape. Para os Dalits, dor e sofrimento é parte da vida. Eles estão presos a um sistema de castas que nega a eles adequada educação, água potável, empregos com decente pagamento e o direito á terra ou á casa própria. A cada duas horas Dalits são assaltados e duas casas de Dalits são queimadas. A cada dia, dois Dalits são assassinados. Discriminados e oprimidos, Dalits são frequentemente ví­timas de violentos crimes. Em 15 de Outubro no Estado de Haryana, cinco jovens Dalits foram linchados por uma multidão por tirarem a pele de uma vaca morta, da qual eles tinham legal direito para fazer. A Polícia, segundo consta, ficou parada sem nada fazer e permitiu que a violência continuasse. Em 1999, vinte e três trabalhadores agrí­colas Dalits (incluindo mulheres e crianças) foram assassinados por seguranças particulares de um fazendeiro de alta-casta. O crime deles? Ouvir a um partido polí­tico local com considerações que ameaçavam o domí­nio do fazendeiro sobre Dalits locais como mão de obra barata.
Embora leis contra a descriminação de castas tenham sido aprovadas, a discriminação continua e pouco é feito para processar os acusados. Em anos recentes, porém, tem havido um crescente desejo por liberdade entre os Dalits e castas baixas hindus. Lí­deres como Ram Raj tem vindo à frente exigindo justiça e liberdade da escravidão das castas e da perseguição. Uma detalhada "Carta dos Direitos Humanos dos Dalits" foi redigida com apelos para a Comunidade Internacional e para a ONU, na esperança que isto colocaria uma pressão positiva sobre o Governo Indiano. Mas pouco tem mudado até recentemente.


Fatos sobre os Dalits:
· A cada dia, três mulheres Dalits são estupradas;
· Crianças Dalits são frequentemente forçadas a sentarem de costas nas suas salas de aula, ou mesmo fora da sala;
· A cada hora, duas casas de Dalits são queimadas;
· A maioria das pessoas das castas altas evitarão terem Dalits preparando a sua comida, por medo de se tornarem imundos;
· A cada hora, dois Dalits são assaltados;
· Em muitas partes da Índia, Dalits não são permitidos entrar nos templos e outros lugares religiosos; 66% são analfabetos;
· A taxa de mortalidade infantil é perto de 10%;
· A 70% é negado o direito de adorarem em templos locais;
· 57% das crianças Dalits abaixo da idade de quatro anos estão muito abaixo do peso;
· 300 milhões de Dalits vivem na Índia;
· 60 milhões de Dalits são explorados através do trabalho forçado;
· A maioria dos Dalits é proibida de beber da mesma Água que os de castas mais altas.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Infância Roubada

Seis dias na vida de um jovem delinqüente. Ele comete um crime que dá errado e como conseqüência terá uma nova jornada na vida.
Ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Infância Roubada é um filme que desperta muita emoção ao narrar os seis dias da vida de um líder de uma gangue de Johanesburgo que furta o carro com um bebê no banco de trás.
Assustado com a situação, ele tenta manter a criança alimentada, ao mesmo tempo em que foge da polícia.
Considerado o Cidade de Deus africano, Infância Roubada foi aplaudido de pé onde foi exibido.
Uma noite, após sair ganhador de uma sangrenta briga de bar, Tsotsi (Presley Chweneyagae) rouba um carro. Enquanto acelera pela noite ele ouve um barulho no banco de trás e acaba sofrendo um acidente. Na traseira do carro descobre um bebê. Sem saber o que fazer, leva-o para o gueto de Johanesburgo em que vive. Lá convencerá a jovem mãe Miriam (Terry Pheto) a cuidar de "seu filho", numa relação que logo provocará mais confrontos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

http://ramonpage.com/ortografa/

Um site que corrige automaticamente a sua escrita de acordo com as novas regras ortográficas

Nestes tempos de mudanças ortográficas, sempre temos dúvidas. Para quem quer uma resposta rápida, uma ótima dica é este site em que você digita a frase e ele responde com as novas regras em vigor: http://ramonpage.com/ortografa/
Para testar, usei a frase "As conseqüências do anti-semitismo são desastrosas, uma péssima idéia", como exemplo e o site me retornou:
"As consequencias do antissemitismo são desastrosas, uma péssima ideia".

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Unificação e reforma ortográfica

Unificação e reforma ortográfica
15/01/2009

Pensei por diversas vezes em como começar este artigo. Rasguei inúmeras folhas com idéias soltas, mas irremediavelmente minha lembrança resgatava uma frase no livro intitulado Língua Portuguesa de Fernando Pessoa a respeito das palavras. Passo, então, a utilizá-la como meu ponto de partida.
“Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma”.
Uma frase de verdade cristalina. Ver bem uma palavra é enxergar todo um povo e como consequência a cultura que lhe é inerente. A escrita é um fenômeno puramente cultural que se fixa culturalmente falando por meio de normas e regras e é nesse ponto que nos deparamos com a tão discutida reforma.
Estamos diante de outra reforma ortográfica que impostamente nos traz mudanças não só na maneira de escrever (como julga a maioria das pessoas), mas também de refletir e lidar com as palavras. Parece exagero à primeira vista colocar que é um novo modo de reflexão sobre a língua. Entretanto como a palavra escrita permanece mais do que a falada, aquela tem um caráter de durabilidade muito grande e com certeza, por meio dessa reformulação, trará novos desafios em lidar com esse universo de letras, sílabas, palavras, ideias, modos de pensar colocados no papel ou na tela do PC. O objetivo que moveu todo esse rebuliço ortográfico partiu dos governos dos países lusófonos com a intenção de UNIFICAR a língua facilitando o livre comércio.
Particularmente, considero o termo UNIFICAR muito amplo e perigoso, pois uma língua jamais poderá ser unificada como se fosse algo plausível de molde em caixa. Ela, como disse Pessoa utilizando o termo palavra, carrega a alma dos falantes, não é de caráter só material e desvinculado do ser que a fala. Há uma relação de interdependência da língua com o falante e vice-versa. O que talvez se queira é uma APROXIMAÇÃO. Unificação me parece utopia barata para aquecer comércios ávidos por driblar a crise.
Não sou radical quanto à reforma, há melhorias como, por exemplo, a inclusão das letras k, w e y (que por sinal nunca deixaram de ser utilizadas aqui no Brasil), porém, como professora de Língua Portuguesa, discordo de muitos aspectos da atual reforma. Creio que muitos deles dificultarão a leitura como a queda de alguns acentos diferenciais. Outros relacionados aos hífens simplesmente dificultarão a escrita e não me parecem tão problemáticos de serem entendidos num acordo comercial entre os países lusófonos a ponto de necessitarem de tradução de português para português.
Toda essa confusão gerada é prejudicial ao público que desconhece aspectos profundos da língua e que acaba buscando no simplismo da modificação de regras um meio para também querer a redução ou anulação das demais como se elas fossem desnecessárias. Dois anos serão suficientes para moldar o que já está enraizado na mente da maioria? E quanto aos outros tantos cidadãos que já passaram por reformas anteriores, esse tempo será suficiente? Alguém com poder de decisão questionou isso antes da estipulação de prazos?
Pensemos: por mais que se tente aproximar hoje a língua dos países lusófonos, as diferenças voltarão a existir e consequentemente preferências de falares também. Vemos que o problema está basicamente numa reformulação puramente ideológica movida por motivos utópicos de cunho mercadológico dificultando reflexões conscientes sobre a língua e o aspecto social da ortografia.
Retomando o que o professor Evanildo Bechara disse: o fato é que continuarão existindo porções de linguiça em cardápios de botecos sendo vendidas sem molho e porções em lanchonetes da mesma lingüiça com molho. O ideal é sermos poliglotas na própria língua.
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Andréia Honório da Cunha – Professora de Língua Portuguesa

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

V O C Ê

A Unicamp (Universidade de Campinas) é reconhecida no país por muitos de seus méritos. E, a bem da verdade, a Unicamp começa bem já no vestibular. Muitas das questões ― é pena que não sejam todas ― são interessantes, inteligentes, de ótimo nível.
O vestibular dessa importante escola começou em 1987. Nesse ano, justamente a primeira questão da prova de português pedia ao aluno que indicasse as marcas típicas da oralidade, ou seja, da língua falada, presentes no discurso de um engenheiro eletrônico. Tratava-se de uma entrevista concedida por ele a um jornal. Disse o engenheiro: “Os grandes problemas, você deve ter um desenvolvimento tecnológico local”.
A questão pedia que o aluno reescrevesse a frase, adequando-a “à língua escrita culta”. De imediato, chama a atenção a falta de conexão. A expressão “os grandes problemas” parece atirada, jogada, perdida. Falta verbo, falta algo que una essa expressão ao resto da frase. Talvez algo como “Para resolver os grandes problemas, você...”.
Epa! Você? Quem é você? Até prova em contrário, você é a pessoa com quem estou conversando. Você é meu interlocutor. E esse “você” da resposta do engenheiro parece muito pouco para a dimensão ― nacional ― do pensamento. “Para resolver os grandes problemas, é preciso desenvolvimento tecnológico local”. Ou: “A solução dos grandes problemas exige desenvolvimento tecnológico local”. Ou ainda: “Para a solução dos grandes problemas, exige-se desenvolvimento tecnológico local”.
Percebeu? O “você” do engenheiro não era a pessoa com quem ele conversava. E é aí que quero chegar. É cada vez mais freqüente, na linguagem oral, o uso da palavra “você” com valor genérico. Dia desses, ouvi famoso jogador de futebol dizer que “quando você bate na bola com o lado de fora do pé...”. Ouvi também uma mulher dizer a um repórter ― repito: um repórter, homem, do sexo masculino ― que “quando você está grávida...”. O repórter fez cara de espanto, com os olhos arregalados, como que a perguntar: “Eu? Grávida?”.
Numa corrida do Grande Prêmio de Fórmula 1, o locutor Galvão Bueno, enquanto explicava o regulamento, dizia que “quando você deixa o carro morrer na largada, deve ir para o fim da fila”. Como houve duas ameaças de largada, Galvão disse pelo menos duas vezes que “quando você...”.
O problema é que Galvão não estava conversando com os pilotos, e sim com o telespectador, que não deixa carro morrer na largada, por uma razão muito simples: não participa de corridas.
Pelo menos na linguagem formal, culta, é bastante desejável a eliminação desse cacoete. É cansativo, pobre e enfadonho o uso da palavra “você” como indicador de algo genérico, coletivo. No caso da corrida, bastaria dizer que “quando se deixa o carro morrer na largada, deve-se ir para o fim da fila”. ― Também se poderia dizer que “quando o piloto deixa o carro morrer na largada, deve ir para o fim da fila”.
O saudoso governador de São Paulo, Mário Covas, é outro que abusava do bendito você que não é você. Vi-o em várias entrevistas ― antes e depois das campanhas ―, repetindo à exaustão que “quando você investe bem o dinheiro do povo”, “quando você aplica no social”, “quando você faz o que realmente é necessário para o povo”, “quando você...”. Vamos quebrar a monotonia: “Quando se investe bem o dinheiro do povo” (ou “Quando o governo/os governantes investe/investem bem o dinheiro do povo”); “Quando se aplica no social” (ou “Quando o governo/os governantes aplica/aplicam no social”); “Quando se faz o que realmente é necessário para o povo” (ou “Quando o governo/os governantes faz/fazem o que realmente é necessário para o povo”).
Uma ex-aluna esteve na Austrália, para estudar. Lá ficou alguns meses. Viciada em você, traduzia essa história de “você” ao pé da letra. A todo instante, dizia “When you...” (“Quando você”, em inglês). Diz ela que as pessoas se assustavam. Punham a mão no peito e diziam ― em inglês, é claro: ― Eu, não!”. No começo, minha ex-aluna não entendia o porquê da reação. Não demorou muito para perceber.
Talvez haja uma explicação sociolingüística ou psicolingüística para o sumiço dos indicadores genéricos da nossa linguagem oral. Será que não é, mais uma vez, porque o brasileiro tem pavor do que é coletivo, genérico, ou seja, tudo no Brasil precisa ser individual, personalizado? Quem sabe. Os antropólogos também podem meter a colher.
Aceitam-se sugestões. E lá vai uma, mais do que urgente: pelo menos em situações formais ― sobretudo na escrita ―, pare com esse cacoete de usar você que não é você.
Até a próxima. Um forte abraço.
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Pasquale Cipro Neto

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Casa das Rosas

Conheça a Casa das Rosas por dentro

A Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura preparou um calendário especial de visitas monitoradas durante as férias. De agora até o fim de fevereiro, a mansão na Avenida Paulista abre suas portas para um passeio de descobertas arquitetônicas e históricas. Grupos de 10 a 45 pessoas podem agendar passeios de uma hora de duração, com horários disponíveis entre terça e sexta-feira, das 10h às 18h. As inscrições devem ser feitas pelos telefones (11) 3285-6986 ou (11) 3287-8917. Para grupos menores (a partir de três participantes) e pessoas que estiverem passeando pela Casa das Rosas, há passeios de trinta minutos em horários fixos: de terça a sexta, às 11h, 13h, 16h e 18h e aos sábados, às 12h e às 16h.
A história da mansão
A Casa das Rosas foi projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo no final da década de 20 para ser a residência de sua filha, Lucia.
Seu estilo arquitetônico é eclético. A entrada é de mármore carrara, os vidros e cristais são belgas e as ferragens, inglesas. Um enorme vitral colorido, assinado por Carlos Sorgenicht, decora o hall de entrada. O jardim, inspirado no Palácio de Versalhes, abriga o famoso roseiral, origem do nome da casa e uma de suas atrações. Ramos de Azevedo não chegou a ver o projeto concluído, pois faleceu em 1928. A construção de trinta cômodos só ficou pronta sete anos mais tarde, sendo assinada por Felisberto Ranzini. Durante 51 anos, residiram ali Lucia Ramos de Azevedo e seu marido, Ernesto Dias de Castro. Mais tarde, Ernesto Dias de Castro Filho e sua esposa ocuparam a casa.
Atualmente a mansão é administrada pela Secretaria de Estado da Cultura em conjunto com a Poiesis - Organização Social de Cultura e abriga o acervo de cerca de 20 mil volumes da biblioteca do poeta, tradutor e ensaísta Haroldo de Campos (1929-2003). É também a única livraria especializada em poesia do Brasil, que disponibiliza cerca de 400 títulos.
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37, Bela Vista - próximo à Estação Brigadeiro do Metrô Aberta de terça a domingo, das 10h às 22h. Estacionamento conveniado: Al. Santos, 74



Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
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Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
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Já o verme — este operário das ruínas
—Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
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Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
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ANJOS, Augusto dos. "Psicologia de um vencido." In: Poesia e prosa. São Paulo, Ática, 1977. p.64.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Educação estadual lança 'pacote' para implantação de nova ortografia

Secretaria de Estado da Educação terá capacitações e roteiro na internet para professores; materiais já virão atualizados

A Secretaria de Estado da Educação terá um pacote de medidas para implantar já a partir de 2009 a alteração ortográfica da língua portuguesa em suas cerca de 5,5 mil escolas. O objetivo é que neste ano os 5 milhões de estudantes da rede estadual iniciem uma mudança gradual na aprendizagem, com seus professores capacitados.
No fim de 2008 a Secretaria já capacitou cerca de 17 mil professores e professores coordenadores de oficinas pedagógicas (PCOPs), que têm atribuição de difundir conhecimento na rede. Este processo terá continuidade já no início deste ano, por intermédio da Rede do Saber (sistema da Secretaria que permite comunicação rápida, via internet, entre todas as escolas e os professores estaduais). Um roteiro com as mudanças será disponibilizado pela Secretaria a todos os seus 250 mil professores, com download pelo site da pasta.
Materiais disponibilizados pela Secretaria - guias curriculares e cadernos do professor, por exemplo - terão versão 2009 com a nova ortografia, já que estão sendo produzindo seguindo as novas regras. O material didático dos alunos é distribuído pelo Ministério da Educação.
"É uma mudança grande para uma rede com 5 milhões de alunos, a maior do Brasil. O prazo indicado pelo Ministério da Educação é de três anos, mas decidimos já iniciar as alterações. Desde 2008 o Estado vem agindo para que o processo ocorra normalmente", afirma Valéria Souza, coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria.
Vídeo com aula sobre as mudanças também será apresentado on-line (via site) pela Secretaria, com acesso, claro, a todos os educadores da rede. "É um momento de transição. A indicação da Secretaria é que em sala de aula o professor oriente seus alunos e esclareça sobre as mudanças de maneira gradual", diz Valéria Souza.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A praga do "onde", comentada pelo Prof. Pasquale

Vamos trocar duas palavras sobre uma verdadeira praga: a palavra onde. Esse termo está assumindo todos os significados possíveis e imagináveis. Vale tudo: da óbvia idéia de lugar a todas as outras que a criatividade das pessoas consegue produzir.
Uma simples consulta a um bom dicionário é suficiente para constatar que onde indica, basicamente, idéia de lugar, lugar físico, lugar em que. Frases como “Onde você comprou a roupa?”, “Onde você nasceu?”, “Falta luz na rua onde moro”, “Conheço a cidade onde você nasceu” são absolutamente corretas e usadas no dia-a-dia com naturalidade.
Os problemas começam quando a bendita palavra onde passa a ser usada como uma espécie de cola-tudo, como nesta frase: “O pacote fiscal reduz o poder de compra da classe média, onde as vendas em dezembro devem diminuir sensivelmente.”
Que tal? Que relação existe entre a redução do poder de compra da classe média e a queda nas vendas? A relação é mais do que evidente: causa e efeito. A redução do poder de compra é causa; a queda nas vendas é conseqüência. Será que a expressão adequada para estabelecer essa relação é onde? Claro que não! As opções são muitas: por isso, conseqüentemente, em conseqüência disso, portanto, logo, razão pela qual, etc.
Por ironia, nenhuma das possibilidades consideradas corretas é a preferida. As pessoas gostam mesmo de usar o danado do onde. Jornalistas, políticos, economistas, esportistas e o público em geral ― certamente influenciado pelo exemplo ― consagram o modismo. Ouvi de um atleta: “Não me alimentei bem ontem, dormi mal esta noite, onde hoje não consegui bom desempenho.”
Na frase do atleta, também se observa a relação causa/efeito. A palavra onde é completamente descabida. Aliás, onde já virou até sinônimo de cujo: “É um veículo moderno, onde o motor tem baixíssima taxa de emissão de poluentes.” Nada disso. O veículo tem motor, o motor é dele, veículo, portanto existe uma relação de posse, que deve ser estabelecida pelo pronome cujo: “É um veículo moderno, cujo motor...”.
Outra coisa esquisita que também já virou moda é “onde que”: “A defesa esteve mal, onde que o adversário se aproveitou para criar muitas situações de perigo.” Nem pensar. Uma das possíveis soluções seria “A defesa esteve mal, e o adversário se aproveitou disso para criar muitas situações de perigo.”
Também se vê onde para estabelecer relação temporal. Até Chico Buarque caiu na esparrela, na memorável Todo sentimento, que tem letra de Chico e música de Cristóvão Bastos: “...tempo da delicadeza, onde não diremos nada...” Tempo é tempo, onde é lugar. Caberia a palavra “quando”, ou a expressão “em que”, talvez pouco adequadas à frase musical.
A diferença entre onde e aonde também deixa muita gente de cabelo em pé. A solução é muito simples. Aonde é a fusão de “a” com “onde”. Esse “a” é preposição e indica basicamente idéia de movimento, destino. Portanto só se deve usar aonde com verbos que indicam essa idéia. E são poucos, como ir, chegar, dirigir-se, levar: “Aonde você quer chegar?”, “Aonde você pretende levá-la?”, “Aonde ela foi?”, “Aonde ele se dirigia naquele momento?.”
Você certamente conhece uma canção interpretada pelo grupo Cidade Negra, cuja letra diz: “Aonde está você? Aonde você mora? Aonde você foi morar?”. No padrão culto, as três frases exigem “onde”, já que estar e morar não indicam movimento. Você não diz estar a algum lugar, nem morar a algum lugar. Se você está em e mora em, o que se usa é onde, e não aonde.
Na fala, é absolutamente impossível controlar a diferença entre onde e aonde. Se você é daqueles que se preocupam com a correção até na língua do dia-a-dia, é bom lembrar que, em termos de língua culta, para cada noventa e nove ocorrências corretas de onde, há uma de aonde.
Mesmo em escritores renomados se vê o emprego de onde e aonde sem critério. Bandeira, num célebre poema pré-concretista, valeu-se do jogo onde/onda/aonde (“Aonde anda a onda?”).
Para a língua padrão, porém, a diferença deve ser respeitada. Se você fizer uma prova, um concurso público, um vestibular, deve seguir as orientações desta coluna. É isso.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.


GULLAR, Ferreira. “Não há vagas”. In: Toda Poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1980. p. 224

Abra seu coração para o conteúdo deste texto

AS VÁRIAS “PERSONALIDADES” DAS PALAVRAS
Pasquale Cipro Neto

Prepare-se. Este texto vai dar trabalho. Será necessário abrir o coração e a alma para admitir a existência de velhos vícios. Será preciso aceitar novidades e surpresas. Também será preciso afiar o raciocínio lógico, sobretudo para a primeira conversa.
Vamos lá. Um cidadão é filho, neto e bisneto de estrangeiros. De alemães, por exemplo. Diz-se, com toda a naturalidade, que ele descende de alemães, certo? Certo. Realmente, esse cidadão descende de alemães. Descender significa “provir por geração, originar-se”.
Até aí, nenhuma novidade. E se esse cidadão quiser fazer referência a seus antepassados. O que deve dizer? Que sua descendência é alemã? Vamos pensar. Descendentes são aqueles que descendem, ou seja, os que provêm, os que vêm depois, os que se originam. Não é o pai que descende do filho. É o filho que descende do pai. Então os descendentes de uma pessoa são seus filhos, netos, bisnetos. Obviamente, sua descendência está nos seus descendentes. Um cidadão só pode dizer que tem descendência alemã se seus filhos, netos, bisnetos forem alemães.
Ascender significa “subir, elevar”. São ascendentes os que estão acima. Obviamente, a ascendência de uma pessoa está nos seus ascendentes, nos que vêm antes, ou seja, nos pais, nos avôs, nos bisavôs.
Moral da história: se um cidadão descende de alemães, ou seja, se provém de alemães, sua ascendência (e não sua descendência) é alemã, porque os que estão acima dele, na hierarquia familiar, ou seja seus ascendentes (pais, etc.) são alemães.
Dia desses, via uma entrevista com a atriz Vera Holtz. Belíssima como sempre, transpirando humor, charme e maturidade, a atriz falou de seus antepassados ― gente do interior de São Paulo. E não titubeou. Referindo-se a sua origem, disse “minha ascendência”.
Todos sabem que, no dia-a-dia, as pessoas simplesmente ignoram a palavra ascendência. Referindo-se a sua origem, costumam dizer “minha descendência”. É o velho problema da contaminação pela semelhança.
O objetivo deste texto não é apenas tentar ensinar a diferença entre descender e ascender, ou entre ascendência e descendência. Isso é só uma semente. A idéia é tentar fazer você prestar atenção nas palavras e ― é claro ― no que elas significam.
Agora vamos às surpresas. Começamos com a palavra “formidável”. Procure-a num bom dicionário. O primeiro significado que se dá é “pavoroso, diabólico, horrendo, assustador”. E não faltam exemplos. Clássicos. Mas essa palavra passou a significar algo como “maravilhoso, excelente, fantástico”.
Outra desse time é “bárbaro”. Os gregos e os romanos denominavam bárbaros todos os estrangeiros. Bárbaro é também um indivíduo dos bárbaros, povo do norte da Europa, que, por sinal, invadiu parte do Império Romano. A palavra também assumiu o significado de “rude, sem civilização, inculto, selvagem”. No Brasil, essa palavra possui ainda o sentido de “muito bom, excelente”. Muita gente de mais de quarenta anos continua usando essa palavra com esse sentido, muito comum na época da Jovem Guarda.
Uma supersurpreendente é “sofisticado”. Usada largamente com o sentido de “chique, muito chique, de extremo bom gosto, de alto nível”, essa palavra aparece nos dicionários como derivada de “sofisticar”, sinônimo de “sofismar”, ou seja, “falsificar, adulterar, deturpar”. Sofisticar e sofismar são farinha do mesmo saco. Sofisma nada mais é do que “argumento falso formulado de propósito para induzir alguém a erro”.
Uma que não pode faltar é “relevar”. É de cair o queixo. “Relevar um fato” pode ser destacá-lo, dar-lhe importância, salientá-lo”, ou “deixá-lo de lado, ignorá-lo, atenuar sua importância”. A palavra simplesmente tem sentidos quase opostos. E mais um, que quase passa despercebido: tornar a levar, levar de novo.
Para terminar, outra doida como relevar: “percalço”. Pode procurar nos dicionários. Significa “problema, obstáculo, dificuldade”, como é mais usada hoje. Mas também pode significar “lucro, vantagem, provento, rendimento, proveito”. Tudo isso mostra que às vezes o mundo das palavras não é muito diferente do mundo das pessoas. Várias “personalidades”. Cuide-se!

Como eu te amo

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;
.
Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua;
.
Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;
.
Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;
.
Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:
.
Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, — mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:
O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti. — Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.
(...)

DIAS, Gonçalves. “Como eu te amo”. In: Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro, Aguilar, 1959. p.128.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As redondilhas de Chico Buarque

No final de 93, depois de algum tempo sem gravar, Chico Buarque deu um belo presente de Natal aos brasileiros — o disco Paratodos. Na canção de mesmo nome, a letra diz: “O meu pai era paulista/meu avô, pernambucano/o meu bisavô, mineiro/meu tataravô, baiano...” De imediato, chama a atenção a presença alternada do artigo definido antes do pronome possessivo.
Trocando em miúdos, você deve ter notado que Chico Buarque escreveu “o meu pai”, depois “meu avô”, “o meu bisavô” e, por fim, “meu tataravô”. Por que essa alternância? Isso é correto?
Quem já estudou inglês deve lembrar-se de uma armadilha que os professores preparam para os novatos. Pede-se a tradução de uma frase bem simples, como “O meu carro é vermelho”. É normal que o aluno traduza palavra por palavra e monte algo que em inglês não existe: “The my car is red”.
“The” é artigo, e “my” é possessivo. Em inglês, não se usa artigo antes de possessivo. A frase inglesa é “My car is red”.
E em português? A história é outra. Antes de possessivos, o artigo não é proibido, nem obrigatório. É facultativo. Frases como “Gosto de suas músicas” e “Gosto das suas músicas” São absolutamente corretas e equivalentes.
Conclui-se que gramaticalmente Chico Buarque acertou nos quatro versos. Teria acertado também se tivesse empregado o artigo nos quatro versos, ou em nenhum. Na verdade, por uma questão de paralelismo, de simetria, teria sido melhor adotar procedimento uniforme, não houvesse por trás de tudo isso uma razão maior.
Essa razão é explicada na letra da canção, em versos que dizem: “Foi Antônio Brasileiro/quem soprou esta toada/Que cobri de redondilhas/Pra seguir minha jornada”. A palavra-chave é “redondilha”, verso de cinco ou sete sílabas poéticas. Com cinco sílabas poéticas, a redondilha é menor; com sete, é maior.
Vamos contar as sílabas do primeiro verso: “O/meu/pai/e/ra/pau/lis/ta”. Quantas são? Oito, não? Não, são sete, porque só se conta até a última sílaba tônica do verso. Nesse verso, a última sílaba tônica é “lis”.
Vamos contar as sílabas do segundo verso: “Meu/a/vô/per/nam/bu/ca/no”. Oito? Não, sete. A última tônica é “ca”.
Vamos ao terceiro: “O/meu/bi/sa/vô/mi/nei/ro”. Oito? Sete. Conte até “nei”, última sílaba tônica do verso.
Por fim, o quarto verso: “Meu/ta/ta/ra/vô/bai/a/no”. De novo, sete. Conta-se até “a”, sílaba tônica de “baiano”, última palavra do verso. Se Chico Buarque tivesse empregado o artigo no segundo e no quarto versos, ou se tivesse deixado de empregá-lo no primeiro e no terceiro, a métrica teria sofrido alteração, e simplesmente não haveria redondilhas.
Você sabe quem é o Antônio Brasileiro citado na letra? É simplesmente Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o querido Tom Jobim, mestre dos mestres. É claro que Chico não ousaria usar em vão o nome do mestre. A toada toda é coberta de redondilhas. Evoé, Tom Jobim. Evoé, Chico Buarque.
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Pasquale Cipro Neto
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*Assista ao vídeo clicando no link a seguir:

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

CASTRO ALVES

Vozes d'África
(fragmentos)
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Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
......................Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
......................Onde estás, Senhor Deus?...
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Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
......................- Infinito: galé! ...
Por abutre - me deste o sol candente,
E a terra de Suez - foi a corrente
......................Que me ligaste ao pé...
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(...)
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Cristo! embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
.....................A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária do universo,
.................... Eu - pasto universal...

ESCOLA

“Escola é o lugar onde se faz amigos.
Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente.
Gente que trabalha, que estuda, que alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor à medida que cada um se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.
Nada de conviver com pessoas e, depois descobrir que não tem amizade a ninguém.
Nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela”!
Ora, é lógico...
Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.
É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo.”
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Paulo Freire